sexta-feira, 6 de junho de 2014

O Livro Egípcio dos Mortos


Os antigos egípcios acreditavam que foi Tehuty (Thoth ou Hermes) a escrever estes textos à 50 mil anos e que eles representavam o conhecimento da eternidade da alma humana . 



O titulo inicial era ‘O Livro para sair para a Luz ‘ que indica precisamente porque foram escritos os textos, para ensinar aos vivos a melhor maneira de viver (uma forma de iniciação espiritual) e de atingir a imortalidade da sua alma após a morte. 

Este livro, que começou a ser descoberto a partir de 1800, inclui diversos textos encontrados em papiros e sarcófagos, tais como os Papiros de Hunefer (1400 a.c.), de Ani, Gerusher, de Enhai, de Nezemi.



O livro dos Mortos, ao contrário dos seu nome, encerra afinal a explicação dos mistérios da vida, actual, futura e eterna. 

Os antigos egípcios acreditavam existirem 3 mundos : o mundo inferior Ta, o superior Nut e o intermédio Dwat ( purgatório dos cristãos). A alma viaja de Ta para Dwat até atingir Nut.



Interessante é a tradição egípcia dizer que estes 3 mundos são vividos pelo homem durante o curso do dia e da noite, Ta entre as 6 e as 18 horas, Dwat entre as 18 e as 24 e Nu das 24 ás 6 horas, ou seja, podem vivenciar-se as experiencias dos 3 mundos todos os dias e assim o homem se prepara em vida para o que ocorre Em outros planos após a morte (o que está em baixo é o que está em cima).

O Universo para os egípcios era gerido por 42 leis naturais de
Osíris , nove das quais são as principais e se chamam de Paut Netru .

Estas Leis reflectem todas as qualidades e dinâmicas existentes na psique humana.  

A salvação na terra dos mortos depende do comportamento da pessoa em vida,  alcançando conhecimentos da verdade pois a morte resulta apenas da ignorância e enchendo a casa da vida 
(o corpo) de Luz para viverem eternamente.  

Este conhecimento era o mapa para saber viajar neste e no outro mundo.  

Para Thot ‘a maldade da alma é a ignorância e a virtude da alma
 é o conhecimento’.  



Toda a educação no Egipto valorizava a importância de aprender o controle das emoções e ensinar como é possível ser bom, criativo, ter auto estima e alcançar a auto realização.  

Cada acto de maldade cometido nesta vida leva ao menosprezo pessoal e fica registado em nosso cérebro e na nossa alma aquando chegar o tempo de sua saída do corpo e de se ‘fazer as contas’. Consequentemente temos de estar atentos aos nossos sentimentos, pois eles se transformarão em pensamentos, depois os pensamentos se transformam em acções que se tornarão hábitos e nossos hábitos são nosso destino.  

A psicologia sagrada egípcia exige o comprometimento de sermos verdadeiros com a nossa natureza interna e que não a neguemos para obter bens materiais ou outra razão.

Essa negação resulta em neuroses e desprezo por nós mesmos.

Para os antigos egípcios o ser humano deve tornar-se iluminado pela iniciação no conhecimento para encontrar o caminho nas trevas. Deve dominar a parte malévola de si mesmo para se desenvolver e alcançar a imortalidade.

Deve permitir ao Ka exprimir as suas boas qualidades e não reprimi-las, pois repressão significa doença mais tarde ou mais cedo.

Para despertar-perceber o Ka é preciso disciplina e persistência na vida.



Algumas vezes experiências negativas como frustração, dores, tragédia , actuam como um professor para despertar o Ka a fim que as pessoas ganhem controle sobre os impulsos internos e o comportamento externo que dita o seu destino. 

O despertar consegue-se com um mestre ou seguindo um caminho pessoal de auto conhecimento com disciplina e persistência. 

Depois há que purificar corpo e psique, por meio da combinação de ervas e laxantes.

Só a seguir se está preparado para purificar os sentimentos e pensamentos. Isso implica contemplar –visualizar as suas qualidades negativas e maus eventos que passou na vida por um período de 3 a 7 dias. Depois de recordar-se de todas as dores e sofrimentos e libertar-se deles e perdoar tanto a si mesmo como aos outros que lhe fizeram mal.

Depois contemplar as suas qualidades positivas e depois de as recordar há que libertar-se dessas energias também e dizer convicto: Renuncio aos prazeres da Terra pelos prazeres do Céu.

Assim tendo contemplado e renunciado a pessoa terá renunciado e se libertado de todos os recursos internos de energia.

Este processo é vital para a purificação da psique  (alma e mente). Após esta purificação a tradição egípcia recomenda o método reactivação da cura e aquisição de boa saúde pela realização de exercícios físicos que fazem parte da cultura egípcia (respiratórios, desenvolvimento de poder e treino e postura do guerreiro). 

Quando a pessoa tiver completado estas 3 fases, despertar, purificar e activar, então chegará a altura da parte Celeste intervir e produzir um rejuvenescimento, uma ‘nova’ atitude da pessoa perante a vida. 

Quando o corpo tem uma ‘nova’ atitude todas as energias fluem em harmonia e cria-se uma ‘nova pele e novos tecidos’ que a tradição egípcia aponta para um período de 15 anos seguido de um período de 10 anos durante os quais a pessoa passa por fases de ‘aquecimento e luz’ seguidos de aumento de ‘longevidade’ de acordo com as características de cada um. 

A chapa 4 do papiro de Hunefer contém a ilustração e a descrição do dia do julgamento.

Antes da pessoa morrer, ocorre um processo de fotografia psíquica por meio do qual todas as experiências de vida e memórias cerebrais formam uma estampa ou marca na alma da pessoa.

Então a alma parte abandonando o corpo sem vida.

Parte em forma de uma espiral de energia, chamada de halo e então os olhos do morto estão como que vidrados no processo mantendo-se consciente do efeito esmagador do mesmo.

Diz-se que as pessoas estão adormecidas e despertam ao morrer.

Na cerimónia fúnebre queimava-se uma cópia do Livro dos Mortos para dar à alma do defunto as armas para assegurar seu futuro eterno.

Mesmo que uma cópia seja queimada na morte é melhor aprender este conhecimento divino com o coração e vivê-lo praticando-o durante a vida para que as palavras se tornem verdades enraizadas, pois só assim o Livro dos Mortos desta vida se torna no Livro da Vida para os mortos.

O julgamento ocorre na noite da morte do indivíduo.

O defunto apresenta-se diante das 42 leis naturais que são os seus juízes e de Osíris, como rei do mundo do além e fornece um relato completo de sua vida.



Theuty está presente para registar as acções da vida do defunto.

Anubis está presente para segurar a balança da justiça onde se pesam as acções do defunto com a pena da verdade.

Os órgãos do defunto estão presentes para serem testemunhas das suas acções e confirmar a veracidade das suas declarações.  

O defunto observa todas as acções praticadas em vida como num filme e tem de decidir o destino da sua vida futura (em nova reencarnação ou em ascensão para outro plano espiritual) com base nas acções cometidas em vida.

Não há mentiras nem ardis, só a verdade é dita no filme que se desenrola á frente da pessoa.

Por isso Hunefer pede a seu coração para estar a seu favor neste dia.

Depois o falecido é julgado por Osíris que decide o que o defunto vai fazer a seguir.

Nesse Julgamento tem de responder a si mesmo sobre as seguintes questões:

Aceitou a vida suficientemente para estar apto a viver novamente na morte?
Desenvolveu uma personalidade suficientemente forte para dar continuidade à mesma?
O seu coração abriu-se para a espiritualidade?
Quantas sementes de eternidade plantou durante a sua vida?
Esforçou-se para superar os seus limites materiais?
Esforçou-se para merecer a posse de sua alma eterna?
Fez das palavras da verdade, uma realidade na sua vida diária em actos práticos?

As opções dependem se em vida o defunto conseguiu ou não se conhecer a si mesmo, controlar a sua mente caótica com uma firme determinação e assim se unir ás leis naturais e se libertar do mundo das aparências.

O sofrimento humano segundo os egípcios é devido a esta ausência de conhecimento e é necessário como forma de ‘forçar’ a consciencialização para este processo de transformação interior.

Quem não o fez e permaneceu ignorante do seu propósito de nascer (dizem os egípcios de não ter conhecido o seu próprio Ka, sua natureza interna ou seu corpo de desejo).

A chapa 7 do papiro de Hunefer explica o ritual da abertura da boca.



A boca do defunto é fechada quando morre e aberta novamente após a morte.

O morto pede que sua boca seja aberta, ou seja, que a sua memória seja resgatada por ele após o silêncio da morte. Este ritual era dos mais profundos segredos do Egipto.

Assim as obras divinas cultivadas em vida tornam-se activas após a morte em beneficio do defunto que assim reúne todas as manifestações de protecção ou palavras de poder que o ajudam a superar os obstáculos de Dwat a caminho dos Campos de Paz. 

No capitulo 90 está escrito: Ó tu, que restauras a memória na boca dos mortos pelas palavras de poder que eles possuem, permite que minha boca seja aberta pelas palavras de poder que possuo.

Este texto reflecte a crença que a boca do defunto é aberta por Ptah e que Thot lhe confere as palavras de poder que abrem todos os portais.


Na chapa 8 do papiro de Hunefer o falecido em evolução superior atravessa o Dwat (mundos inferiores) e unido às 42 leis sente que está integrado ao único todo poderoso, unido ao Criador.

Afirma que todas as almas devem travar uma batalha que é inerente á ilusão de viver, batalha essa que se baseia na doutrina da Purificação e que se inicia com a concepção do homem e seu nascimento.

Assim os seres humanos só alcançam a graça suprema do Céu depois de superar todos os estágios intermediários e suas consequências.

Identifica-se como o guardião do livro das ‘coisas que são e que serão’, declara que Deus se manifesta pelas suas criações.

Conclui com o defunto dizendo que colocou um fim aos seus erros e dominou seus pecados sendo severo com a parte corruptível de si mesmo, assim se tornado capaz e digno de se unir a Osíris.

A chapa 9 do papiro de Hunefer diz:

Adquiri a purificação do meu corpo e da minha alma no tempo da minha juventude, quando as outras pessoas estavam ocupadas com a ilusão deslumbrante da vida.

Hunefer explica que foi a Fé no Criador Deus todo poderoso que o inspirou na sua busca.

Passou a vida tentando entender as leis naturais e ao alcançar este conhecimento descobriu o futuro da alma e o que acontece com ela após a morte.

Dedicou-se ao combate entre o bem e o mal e denuncia as ilusões fascinantes da vida criadas pelo mal para acorrentar o homem.

Percebeu finalmente que o mal será sempre vencido pelo bem e que a autoridade do mal só advém se o homem lha der.

Descobriu o caminho da imortalidade pelo portal a sul de Rastau no qual o individuo se torna uma alma perfeita após se desprender de tudo que pertence á Terra.

Henufer sobe pela escada de Heru para a Luz e diz: 
Elevo minha escada ao céu, pois eu observei as leis’.

A chapa 10 do papiro de Hunefer explica que a sua salvação lhe deu ‘prosperidade e saúde sem pecado’, que ao ver o Sol nascer e morrer todos os dias com uma nova vida isso lhe deu força para também se regenerar e ‘mudar de atitude de vida’.

Compara-se a um gato que luta para obter felicidade e autocontrole, pois os gatos não resistem ao movimento e assim não se magoam mesmo quando caem de grandes alturas rodando no ar para cair naturalmente em posição flexível e relaxada.



Mesmo a dormir os gatos estão atentos e assim está o homem que ‘acordou’.

O papiro de Gerusher foca as técnicas respiratórias como centrais no caminho espiritual.

A chapa 5 do papiro de Ani é o começo das orações cerimoniais para entrar no Dwat que devem ser recitadas no dia do sepultamento.

Ani reconhece que está unido ás leis naturais, declara que Tehuty, o conhecimento, está com ele e pede que lhe seja concedida a entrada na casa de Osíris com uma alma perfeita e vitoriosa.



A chapa 6 do papiro de Ani refere que Ani assumiu a personalidade de Osíris em vida, ou seja, seguiu o conhecimento e inteligência de seu coração e extinguiu em si a luta do bem e do mal e pede a Osíris que lhe conceda o poder para seguir a luz do seu coração nas trevas da noite por ter conseguido controle sobre seu corpo espiritual e assim se tornando poderoso.

A sua recompensa resulta de ter compreendido e obedecido á verdade.

As súplicas desta chapa eram memorizadas em vida pelo defunto para seguir adiante nos mundos inferiores após sua morte.

O papiro de Nemezet nomeia as 42 confissões negativas que o defunto tem de fazer no acto do julgamento, e são um testemunho que o defunto teve um bom comportamento moral e ético na sociedade.

Diz por exemplo, “Eu não matei, Eu não roubei, Eu não destrui meu coração, Eu não me fiz surdo ao ouvir as palavras da justiça e da verdade”. 



 Fonte:  O Livro Egípcio dos Mortos - Christiano
 A Caminho de Casa blogspot.

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